sábado, 24 de abril de 2010

Nostalgia



Dez anos após o que aconteceu, por incrível que possa parecer, só tive uma notícia de Jessica, eu a recebi hoje. Uma verdadeira amiga, mas que não sabia realmente que fim tinha levado...ou se haveria algum "fim". O que sabia era que depois daquela última conversa, ela sumiu e não mais me procurou.
Há algum tempo, escrevi uma carta endereçada à Jess. Não a enviei. Para onde enviaria? Sinto saudades da nossa amizade.

Jess,
   Amiga, há tempos que não dá sinal de vida. Todos os dias penso em você, apesar de que várias coisas hoje estão diferentes em minha vida, hoje há responsabilidades...compromissos. Quase não paro em casa, mas nem assim deixo de me perguntar diariamente onde está você. Guardei o nosso segredo, mas você não cumpriu a sua parte no trato...ainda não entendi porque fez isso comigo.
   Naquela manhã, como em várias outras, estávamos bêbadas após uma noite de balada como outra qualquer que passamos juntas. Mas aquela manhã foi diferente. Sim, sem dúvidas foi. Ao ver uma casa abandonada no caminho, você parou o carro e disse que queria entrar para conversar. Apesar de estar bêbada, lembro bem da conversa.
    — Mari, preciso ir embora daqui.
    — Como assim Jess? Ir embora?
    — Sim, talvez eu passe um tempo longe da cidade...mas por aqui não tem condições de eu ficar.
    — Mas por que isso agora?
    — Acho que coloquei tranquilizante demais na bebida do Eduardo. Na festa, ele não queria largar do meu pé e tudo bem, um dia eu gostei dele, mas não aguento mais essa obsessão...ele tem crises de ciúme, me agride e eu já não sei mais o que dizer aos meus pais. Acho que o matei. Mas eu realmente quis fazer isso.
    — Não Jessica! Fique. Ninguém vai poder dizer que foi você. Estávamos em uma festa!
    — Mari, não posso correr o risco, desculpa...mas eu tenho que ir agora, peço que você não conte nada a ninguém. Sei que não vai contar. Não sei o que vou fazer, não consigo olhar para mim mesma no espelho. Vou pegar um dinheiro em casa e "cair no mundo".

Depois dessa conversa, fomos embora...discutimos em vão no carro, mas você me deixou em casa. Disse que mandaria notícias e que depois que essa situação se tranquilizasse, voltaria.
Na mesma manhã, recebi a notícia de que Eduardo foi encontrado desmaiado na festa, foi socorrido, mas tarde demais. É, você tinha razão. Você o matou. Não poderia alegar legítima defesa, no momento ele não estava te agredindo e nem tinha a intenção. Você teve razão em fugir. Acho que faria o mesmo, mas não da maneira que fez.
As investigações não foram muito longe...até porque ninguém sabia muita coisa sobre ele, além do que, ele era estrangeiro...vivia de lugar em lugar e a família dele nunca procurou saber nada...creio que nem saibam que ele está morto. Ele nunca dava notícias mesmo.
Seus pais te procuram até hoje...a polícia não mais. Não sei como não a encontraram, mas enfim, não encontraram. Mas creio que você esteja em algum lugar desse mundo. Se voltasse, eu te perdoaria com certeza. Não há como apagar tudo o que passamos juntas. Você deve ter algum motivo para não mais ter mandado notícias. Ainda a espero. Um dia lerá esta carta e neste dia, vamos estar juntas recordando coisas boas e ruins de um passado distante.

           Com amor,
                       Sua eterna amiga, Mariana.

Jessica enviou-me uma carta. Seus pais me entregaram. Agora mora em Portugal e tem uma linda família. Disse que nunca conseguiu esquecer o que fez e que há algum tempo entrou em contato com a sua família, mas pediu que eles continuassem a procurar por ela e não dissessem a ninguém nada sobre o seu reaparecimento. Eu reconheci a sua letra, o mesmo garrancho de sempre.
Ela me magoou, mas de certa forma, entendo. Agora tenho para onde enviar minha carta. Acho que manteremos contato e entenderei essa história direito.

2 comentários:

  1. Que situação em.
    amei o texto,to seguindo o blog.
    visita o meu se der: http://cantinhodoescritoreleitor.blogspot.com

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